quarta-feira, 18 de julho de 2018

Schwarze Sonne



Em completo silêncio, o General olhava fixamente na direção do oficial que lhe passara o telefone. Não olhava necessariamente para o soldado, mas para algum ponto perdido entre ele e a parede ao fundo da mansão.
A voz do outro lado desligou o telefone, um sinal súbito da cruel realidade. O Reich acabara de cair. Soldados das forças dos Aliados invadiam Berlim, com uma potência devastadora. As linhas de contato com o Führer já haviam sido perdidas. O General estava sozinho, em sua mansão de onde coordenava as ações da Schutzstaffel, a famigerada SS.
A maior parte dos soldados estava nas ruas ou com o Führer. Apenas os guardas
pessoais e mais confiáveis estavam com ele. Cerca de dez ou doze homens armados. A
julgar pelos sons nas ruas, em breve sua mansão seria invadida. As forças aliadas o
levariam como um troféu. Isso não podia acontecer.
Havia uma tentativa. Talvez, uma forma de escapar.
O General soltou o telefone sobre o gancho com convicção. Correu para sua sala
particular e começou a revirar suas gavetas, atirando os conteúdos no chão. Folhas
soltas voavam pela sala, quando ele ergueu o caderno em sinal de triunfo. Os deuses não
podiam, afinal, serem tão cruéis com quem tentou reviver a velha Alemanha em sua
velha forma, conforme os costumes de seus antepassados.
Ordenou que os últimos homens se dirigissem até o salão mais interno da casa. Ele
tentaria uma última e desesperada saída para aquela guerra. Um último triunfo, ainda
que ocasionado pela derrota.
O salão era realmente grande, e todos os homens conseguiram se posicionar em
perfeita ordem, formando um círculo ao redor do grande sol negro no chão, feito com
pedras de mármore negro.
O General se ajoelhou sobre o chão frio. Abriu o caderno e começou a folhear
rapidamente as páginas, chegando a rasgar algumas. Os soldados o encaravam,
estarrecidos, mas haviam recebido ordens para não se manifestarem a menos que
alguém adentrasse o salão, executando sem perguntas o invasor.
Cada vez mais o General dava indícios de ter ficado louco. Ele recitava imprecações
em alemão, de forma cada vez mais rápida e intensa, lendo as páginas daquele caderno.
Os soldados sabiam da fixação de seu superior por ocultismo e magia negra, mas não esperavam ser mortos sem a mínima tentativa de escapatória, por causa daquele louco.
Puderam ouvir quando a porta da frente estourou. Os Aliados haviam entrado.
Os soldados remanescentes da velha SS engatilharam seus fuzis, se entreolhando sem esperanças.
Os passos no corredor aumentavam cada vez mais a velocidade e a intensidade.
Haviam ouvido a voz do General. Estavam arrombando a porta, utilizando alguma
forma de aríete portátil. Com uma última saudação ao Führer, os soldados encararam a
porta e dispararam com seus fuzis.
Mas as balas nunca chegaram a seu destino.
Um vórtice negro se abriu, durante menos de um segundo. Todos os seres vivos
dentro daquela sala foram sugados e despejados em algum lugar do Universo.
As forças do eixo invadiram a sala, habitada apenas pela grande figura de um Sol
Negro no meio do mármore branco e folhas chamuscadas, ainda flutuando no ar.
A única coisa que se passou pela mente do líder daquele pequeno contingente que
invadira a mansão do General, foi como diabos explicar isto em um relatório de forma
sã.

***

E seu eu lhe disser que este conto não é sobre guerreiros, generais nazistas, demônios
ou entidades? E se tudo isso for, na verdade, sobre você?! Sobre os seus fundamentos, seus motivos e capacidade?
Não, eu não me importo com nada disso. Nem o mundo se importa. Muito pelo
contrário eu diria, quanto menor você for, mais o mundo se alimentará de você.
Não é questão de poder aquisitivo, carros ou mulheres. É questão de influência sobre
os outros e especialmente sobre si mesmo. Sem autocontrole, você não controla nada.
Nem mesmo a energia.
Por que sempre que tentamos pensar sobre nós mesmos algo impede? Porque não
querem que você pense. Então é exatamente isso o que você fará agora. Pensar.
Pare de ler tudo que passam pra você. Escreva algo. Pare de aceitar toda realidade
que te impõe. Teste sua realidade. Seja sincero consigo mesmo pelo menos uma vez na
vida e admita a sua incapacidade.
Esmague o Ego. Destrua sua imagem. Você não é sua roupa ou seu corpo ou o nome
que te deram. Você não é sua profissão. Você, simplesmente, é! E está em decomposição, gradual e irreversível, assim como todos nós estamos em decomposição, agora mesmo enquanto você lê isso, e mesmo depois, quando esquecer o texto lido, continuará em decomposição.
Isso não é sobre o que você pensa de si mesmo. É sobre o que você é. E você não é
uma estrela. Você é uma falsa aurora que tenta brilhar com algo que não é seu.
Somente aqueles que se consomem totalmente podem emitir alguma luz. 
E somente quando estamos na escuridão é que podemos ver a Estrela da Manhã.

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