sábado, 20 de outubro de 2018

A morte...



I
A morte é a dissolução necessária das formações imperfeitas; é a reabsorção dos esboços da vida particular no grande trabalho da vida universal. Não é imortal mais que o perfeito.

II
É um banho de esquecimento. É a fonte da juventude onde submergem-se por um lado os anciãos e de onde saem da sombra as crianças.

III
A morte é a transformação dos vivos. Os cadáveres são as folhas mortas da árvore da vida que, naPrimavera, terá ainda todas as suas folhas. A ressurreição dos homens assemelha-se eternamente adas folhas.

IV
As formas perecedouras estão determinadas pelos tipos imortais.

V
Todos os que viverem sobre a terra vivem nela ainda nos moldes novos de seus tipos; porém, as almas que depuseram seu tipo, recebem em outra parte uma nova forma determinada por um tipo mais perfeito, elevando-se sempre na escala dos mundos. Os maus e vazios são quebrados e sua matéria retorna à massa comum.

VI
Nossas almas são como uma música da qual nossos corpos são os instrumentos; a música
subsiste sem o instrumento; porém, não pode se fazer ouvir. Sem um mediador material, o material é inconcebível e inapreensível.

VII
O homem não guarda das suas existências passadas senão predisposições particulares na
existência presente.

VIII
O pecado original pelo qual Jesus Cristo responde, é a inocência devolvida a todos os homens. A responsabilidade ante Deus supõe a perfeição e o homem perfeito é impecável.

IX
As evocações são as condenações das lembranças; e a colocação mediante imagens, das
sombras. Evocar aqui embaixo aos que não estão mais, é fazer surgir seu tipo da imaginação da natureza.

X
Para estar em comunicação direta com a imaginação da natureza têm-se que estar no sonho, naembriagues, no êxtase, na catalepsia ou na loucura.

XI
A lembrança eterna não conserva mais que as coisas imperecíveis. Tudo o que acontece no tempo pertence de direito ao esquecimento.

XII
A conservação dos cadáveres é uma resistência às leis da natureza. É um ultraje ao pudor da morte que oculta suas obras de destruição como nós devemos ocultar as da geração. Conservar os cadáveres e criar fantasmas na imaginação da terra. Os espectros do pesadelo, da alucinação e do medo não são senão as fotografias errantes dos cadáveres conservados.

XIII
São os cadáveres conservados ou mal destruídos os que espargem sobre os vivos a cólera, a peste, as doenças contagiosas, a tristeza, O ceticismo e o tédio para a vida. A morte exala-se da morte. Os cemitérios envenenam a atmosfera das cidades e as mesmas dos cadáveres voltam raquíticas às crianças até ao seio de suas mães.

XIV
Perto de Jerusalém no vale do Gehenna, alimentava-se um fogo perpétuo para consumir as
sujeiras e os cadáveres dos animais, e é a esse fogo eterno que Jesus faz alusão quando diz que os malvados serão lançados na Gehenna, para fazer entender que suas almas mortas serão tratadas como cadáveres.

XV
O Talmud diz que as almas dos que não acreditaram na imortalidade, não serão imortais. Só a fé dá a imortalidade pessoal; a ciência é a razão não afirmam senão a imortalidade coletiva.

XVI
No catecismo dos israelitas lê-se: "Nós cremos nas recompensas e nos castigos após a morte; porém, não sabemos de que natureza são estes castigos e estas recompensas". Positivamente, sobre isto, podemos conjeturar ou aceitar crenças, porém, não sabemos absolutamente nada, e os cristãos razoáveis devem pensar como os israelitas. Pois bem, se sobre isto não sabemos nada, não é necessário que o saibamos. Façamos, pois, este livro e vivamos em paz.

XVII
O pecado mortal é o suicídio da alma. Este suicídio teria lugar se o homem se entregasse ao mal com toda a plenitude da sua razão com conhecimento perfeito do bem e do mal e com inteira liberdade; o qual parece impossível de fato, porém é possível de direito, já que a essência da personalidade independente é uma liberdade ilimitada: Deus não impõe nada ao homem, nem sequero ser. O homem tem o direito de se subtrair até à bondade de Deus e o Dogma do inferno eterno não é mais que a afirmação de liberdade eterna.

XVIII
Deus não precipita ninguém ao inferno. São os homens que podem ir livremente a ele,
definitivamente e a sua eleição.

XIX
Os que estão no inferno, ou seja, nas trevas do mal e nos suplícios do castigo necessário, sem ter desejado absolutamente, são chamados a sair, e este inferno não é para eles mais que o purgatório.

XX
O infame completo, absoluto e sem retorno é Satã que é um ser sem razão, porém uma hipótese necessária.

XXI
Satã é a última palavra da criação. É o finito, infinitamente emancipado. Quis ser semelhante a Deus do qual é o oposto. Deus é a hipótese necessária da razão, Satã é a hipótese necessária do sem razão afirmando-se como liberdade.

XXII
Para ser imortal no bem, há que identificar-se com Deus. Para ser imortal no mal, há que
identificar-se com Satã. Tais são os dois pólos do mundo das almas; entre estes dois pólos vegetam e morrem sem lembrança os animais e os homens...

Eliphas Levi em "O Livro dos Sábios"


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