I
A morte é a dissolução necessária das
formações imperfeitas; é a reabsorção dos esboços da vida particular no grande
trabalho da vida universal. Não é imortal mais que o perfeito.
II
É um banho de esquecimento. É a fonte
da juventude onde submergem-se por um lado os anciãos e de onde saem da sombra
as crianças.
III
A morte é a transformação dos vivos.
Os cadáveres são as folhas mortas da árvore da vida que, naPrimavera, terá
ainda todas as suas folhas. A ressurreição dos homens assemelha-se eternamente
adas folhas.
IV
As formas perecedouras estão
determinadas pelos tipos imortais.
V
Todos os que viverem sobre a terra
vivem nela ainda nos moldes novos de seus tipos; porém, as almas que depuseram
seu tipo, recebem em outra parte uma nova forma determinada por um tipo mais
perfeito, elevando-se sempre na escala dos mundos. Os maus e vazios são
quebrados e sua matéria retorna à massa comum.
VI
Nossas almas são como uma música da
qual nossos corpos são os instrumentos; a música
subsiste sem o instrumento; porém, não
pode se fazer ouvir. Sem um mediador material, o material é inconcebível e
inapreensível.
VII
O homem não guarda das suas
existências passadas senão predisposições particulares na
existência presente.
VIII
O pecado original pelo qual Jesus
Cristo responde, é a inocência devolvida a todos os homens. A responsabilidade
ante Deus supõe a perfeição e o homem perfeito é impecável.
IX
As evocações são as condenações das
lembranças; e a colocação mediante imagens, das
sombras. Evocar aqui embaixo aos que
não estão mais, é fazer surgir seu tipo da imaginação da natureza.
X
Para estar em comunicação direta com a
imaginação da natureza têm-se que estar no sonho, naembriagues, no êxtase, na
catalepsia ou na loucura.
XI
A lembrança eterna não conserva mais
que as coisas imperecíveis. Tudo o que acontece no tempo pertence de direito ao
esquecimento.
XII
A conservação dos cadáveres é uma
resistência às leis da natureza. É um ultraje ao pudor da morte que oculta suas
obras de destruição como nós devemos ocultar as da geração. Conservar os cadáveres
e criar fantasmas na imaginação da terra. Os espectros do pesadelo, da
alucinação e do medo não são senão as fotografias errantes dos cadáveres
conservados.
XIII
São os cadáveres conservados ou mal
destruídos os que espargem sobre os vivos a cólera, a peste, as doenças
contagiosas, a tristeza, O ceticismo e o tédio para a vida. A morte exala-se da
morte. Os cemitérios envenenam a atmosfera das cidades e as mesmas dos
cadáveres voltam raquíticas às crianças até ao seio de suas mães.
XIV
Perto de Jerusalém no vale do Gehenna,
alimentava-se um fogo perpétuo para consumir as
sujeiras e os cadáveres dos animais, e
é a esse fogo eterno que Jesus faz alusão quando diz que os malvados serão
lançados na Gehenna, para fazer entender que suas almas mortas serão tratadas como
cadáveres.
XV
O Talmud diz que as almas dos que não
acreditaram na imortalidade, não serão imortais. Só a fé dá a imortalidade
pessoal; a ciência é a razão não afirmam senão a imortalidade coletiva.
XVI
No catecismo dos israelitas lê-se:
"Nós cremos nas recompensas e nos castigos após a morte; porém, não
sabemos de que natureza são estes castigos e estas recompensas".
Positivamente, sobre isto, podemos conjeturar ou aceitar crenças, porém, não
sabemos absolutamente nada, e os cristãos razoáveis devem pensar como os
israelitas. Pois bem, se sobre isto não sabemos nada, não é necessário que o
saibamos. Façamos, pois, este livro e vivamos em paz.
XVII
O pecado mortal é o suicídio da alma.
Este suicídio teria lugar se o homem se entregasse ao mal com toda a plenitude
da sua razão com conhecimento perfeito do bem e do mal e com inteira liberdade;
o qual parece impossível de fato, porém é possível de direito, já que a
essência da personalidade independente é uma liberdade ilimitada: Deus não
impõe nada ao homem, nem sequero ser. O homem tem o direito de se subtrair até
à bondade de Deus e o Dogma do inferno eterno não é mais que a afirmação de
liberdade eterna.
XVIII
Deus não precipita ninguém ao inferno.
São os homens que podem ir livremente a ele,
definitivamente e a sua eleição.
XIX
Os que estão no inferno, ou seja, nas
trevas do mal e nos suplícios do castigo necessário, sem ter desejado
absolutamente, são chamados a sair, e este inferno não é para eles mais que o
purgatório.
XX
O infame completo, absoluto e sem
retorno é Satã que é um ser sem razão, porém uma hipótese necessária.
XXI
Satã é a última palavra da criação. É
o finito, infinitamente emancipado. Quis ser semelhante a Deus do qual é o
oposto. Deus é a hipótese necessária da razão, Satã é a hipótese necessária do sem
razão afirmando-se como liberdade.
XXII
Para ser imortal no bem, há que
identificar-se com Deus. Para ser imortal no mal, há que
identificar-se com Satã. Tais são os
dois pólos do mundo das almas; entre estes dois pólos vegetam e morrem sem
lembrança os animais e os homens...
Eliphas Levi em "O Livro dos Sábios"

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