sábado, 27 de outubro de 2018

Satã



Satã é um tipo, não é uma pessoa real.
É o tipo oposto ao tipo divino e é em nossa imaginação o contraste necessário.
É a sombra fictícia que nos torna visíveis à Luz infinita de Deus.
Se Satã fosse uma pessoa real, haveria dois deuses e a crença dos maniqueus seria uma verdade.
Satã é a ficção do absoluto no mal. Ficção necessária para a afirmação integral de liberdade humana que, por meio deste absoluto fictício, parece equilibrar a mesma onipotência de Deus.
É o mais atrevido e, talvez, o mais sublime dos sonhos do orgulho humano.
Sereis como OS DEUSES, conhecendo o bem e o mal, diz a serpente alegórica da Bíblia. 
Com efeito, erigir o mal na ciência é criar um Deus do mal e se um espírito pode resistir eternamente a Deus, aí não há um Deus, mas, deuses.
Para resistir ao infinito, é necessário uma força infinita. Pois bem, duas forças infinitas opostas uma à outra, se anulariam reciprocamente. Se a resistência de Satã é possível, o poder de Deus não o é mais. Deus e o diabo destroem-se mutuamente e o homem fica só.
Fica só com o fantasma de seus deuses, a esfinge híbrida, o touro alado que balança na sua mão de homem uma espada cujos relâmpagos alternados levam a imaginação humana de um erro a outro e do despotismo da luz ao despotismo das trevas.
A história das desgraças do mundo é a época da luta dos deuses, luta que não acabou, porque o mundo cristão adora ainda um Deus do diabo e teme um diabo de Deus!
O antagonismo das potências é a anarquia no dogma. Por isso, a igreja que diz: "O diabo é o mundo", responde com uma lógica horrível: "Deus não é". E seria em vão que para escapar à razão,
se inventasse a supremacia de um Deus que permitisse ao diabo perder aos homens; uma tal
tolerância seria uma monstruosa cumplicidade e o Deus cúmplice do diabo não pode existir.
O diabo dogmático é o ateísmo personificado.
O diabo filósofo é o ideal exagerado da liberdade humana.
O diabo real ou físico é o magnetismo do mal.
O diabo vulgar é o compadre de Polichinelo.
Evocar ao diabo é realizar durante um instante sua personalidade fictícia. Para isto, é necessário exagerar em si mesmo, além de toda medida, a perversidade e a demência, pelos atos mais criminais e insensatos.
O resultado desta operação é a morte da alma pela loucura e freqüentemente a mesma morte do corpo fulminado por uma congestão cerebral.
O diabo pede sempre e não dá nunca.
São João chama-o “a besta”, porque sua essência é a imbecilidade humana.
(Eliphas Levi)

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