Satã é um tipo, não é uma
pessoa real.
É o tipo oposto ao tipo divino
e é em nossa imaginação o contraste necessário.
É a sombra fictícia que nos
torna visíveis à Luz infinita de Deus.
Se Satã fosse uma pessoa real,
haveria dois deuses e a crença dos maniqueus seria uma verdade.
Satã é a ficção do absoluto no
mal. Ficção necessária para a afirmação integral de liberdade humana que, por meio deste absoluto fictício, parece
equilibrar a mesma onipotência de Deus.
É o mais atrevido e, talvez, o
mais sublime dos sonhos do orgulho humano.
Sereis como OS DEUSES,
conhecendo o bem e o mal, diz a serpente alegórica da Bíblia.
Com efeito, erigir o mal na ciência é criar um Deus do mal e
se um espírito pode resistir eternamente a Deus, aí não há um Deus, mas, deuses.
Para resistir ao infinito, é
necessário uma força infinita. Pois bem, duas forças infinitas opostas uma à
outra, se anulariam reciprocamente. Se a resistência de Satã é possível, o
poder de Deus não o é mais. Deus e o diabo destroem-se mutuamente e o homem
fica só.
Fica só com o fantasma de seus
deuses, a esfinge híbrida, o touro alado que balança na sua mão de homem uma
espada cujos relâmpagos alternados levam a imaginação humana de um erro a outro
e do despotismo da luz ao despotismo das trevas.
A história das desgraças do
mundo é a época da luta dos deuses, luta que não acabou, porque o mundo cristão
adora ainda um Deus do diabo e teme um diabo de Deus!
O antagonismo das potências é
a anarquia no dogma. Por isso, a igreja que diz: "O diabo é o mundo", responde com uma lógica horrível: "Deus
não é". E seria em vão que para escapar à razão,
se inventasse a supremacia de um Deus que permitisse ao
diabo perder aos homens; uma tal
tolerância seria uma monstruosa cumplicidade e o Deus
cúmplice do diabo não pode existir.
O diabo dogmático é o ateísmo
personificado.
O diabo filósofo é o ideal
exagerado da liberdade humana.
O diabo real ou físico é o
magnetismo do mal.
O diabo vulgar é o compadre de
Polichinelo.
Evocar ao diabo é realizar
durante um instante sua personalidade fictícia. Para isto, é necessário exagerar
em si mesmo, além de toda medida, a perversidade e a demência, pelos atos mais
criminais e insensatos.
O resultado desta operação é a
morte da alma pela loucura e freqüentemente a mesma morte do corpo fulminado
por uma congestão cerebral.
O diabo pede sempre e não dá
nunca.
São João chama-o “a besta”,
porque sua essência é a imbecilidade humana.
(Eliphas Levi)

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