"Existem mais coisas entre o céu e a Terra, Horácio, do que sonha nossa filosofia" - Hamlet, ato 1, cena V, William Shakespeare 1. Tomemos como ponto de partida, o fato de que o ser humano é mentalmente livre, ou seja, dotado de livre arbítrio. Este fato, aparentemente simples, poderá explicar a razão pela qual Deus não se mostra através de expressões evidentes, dando lugar ao conceito de fé. Se Deus se mostrasse visivelmente, não seríamos verdadeiramente livres, mas apenas bem ou mal comportados, mais ou menos disciplinados. Não seríamos a sua "imagem e semelhança". Sem a certeza da existência de Deus, existe lugar para a consciência, para opção entre o Bem e o Mal. Se a existência de Deus fosse certa e evidente, não teríamos esta liberdade. Grande parte dos que que não têm fé, baseiam-se no fato de não acreditarem no que não vêem. Seriam livres, se vissem? Ou presos novamente ao "conceito" do que viram? Este argumento não prova a existência de Deus mas elimina racionalmente um dos principais motivos pelo qual muitas pessoas não acreditam na sua existência, - Pode-se então deduzir que a existência de Deus não é “demonstrável” pela razão humana, para que possamos gozar de nossa liberdade, de nosso livre arbítrio Sem a referida liberdade teríamos nossa liberdade restringida à capacidade de cumprir melhor ou pior, os preceitos decorrentes de uma determinada noção de Bem e de Mal. A possibilidade do Mal, seria então apenas consequência indispensável para o livre arbítrio que foi concedido aos homens e, como foi dito, para a sua dignidade?! 2. Consideremos as seguintes questões : O Universo é finito ou infinito? E o tempo? Não conseguimos imaginar nem uma coisa nem outra. Não conseguimos sequer perceber integralmente o conceito de infinito ou a sua aplicação a qualquer situação real. Também a idealização de um Universo finito gera paradoxos que não nos é possível resolver. No entanto, estas questões têm sentido e as respectivas respostas teriam impacto em múltiplas áreas do conhecimento. As consequências da incapacidade do Homem em compreender o conceito de infinito poderão ser largamente estendidas, ao ponto de levantar a hipótese de este (o infinito) constituir a pedra angular das grandes interrogações e paradoxos com que a Humanidade se depara, desde os tempos imemoriais. Se nossa compreensão e domínio do espaço e tempo está posta em dúvida através e vários paradoxos, hoje alumiados parcamente pela física quântica, como podemos achar que a racionalidade explica tudo? E por que explicaria? E, finalmente, a racionalidade já está esgotada, de forma que nada mais há a esclarecer? Cientes deste fato, deveríamos abrir a possibilidade de integrar aos nossos raciocínios lógicos, alguns conceitos não demonstráveis e tidos como subjetivos, tais como a Fé, a Esperança, a Bondade ou, porque não, a Verdade. 3. Os “números imaginários” podem nos ajudar a compreender o conceito de fé, vejamos: Resumidamente, um número imaginário (i) foi definido matematicamente como sendo aquele cuja multiplicação por si mesmo, dá o resultado de "-1" ou a raiz quadrada de "-1". Claro que este número não existe porque tanto “-1 (x) -1” como “1 (x) 1” dão o resultado de 1. Podemos, no entanto, definir que esse número (i) existe, e nesse caso teríamos por consequência que “i (x) i = -1”, “i + i = 2i”, “i x –i = 1”. (Wikipedia me ajudou nessa! hehehe) Essas noções constituem um pilar da Matemática. Não é possível conceber o mundo científico de hoje sem a descoberta dos números imaginários, e a sua aplicação prática é enorme. E tudo isso a partir de algo que não existe, segundo a nossa compreensão das operações mais básicas com números inteiros... A analogia com o conceito de fé, é direta. Se partirmos do princípio que Deus existe, ainda que contrária à nossa tendência, poderemos chegar a um tipo de conhecimento não alcançável de outro modo. Segundo o ponto de vista "não crente", estamos partindo de um princípio errado e portanto as conclusões que daí tirarmos estarão incorretas. No entanto, já se viu que com os números imaginários se passa o mesmo, então, esse mesmo princípio racional nos dá a legitimidade para fazê-lo relativamente à existência de Deus. À semelhança das reflexões anteriores, este raciocínio não prova a existência de Deus mas, novamente coloca em “xeque” um dos argumentos contra a sua inexistência. 4. A existência de Deus, quando tentada provar pelo lado afirmativo baseia-se essencialmente na Criação. Quem criou o que existe? Não me refiro às plantas ou aos animais (estes são certamente uma consequência) mas sim, ao Universo. Tudo começou ao que parece, com uma enorme explosão há 15 mil milhões de anos... Mas, o que existia antes? Ou então, “quem” ou “o quê” produziu o "big bang"? Ainda que essa explosão tenha sido resultado de um sistema cíclico de implosões e explosões de Universos, “quem” ou “o quê” iniciou este ciclo? Paradoxo? Instintivamente aparece a sensação da necessidade de um criador. Sensação totalmente legítima, na medida em que já vimos que a racionalidade pura é insuficiente neste âmbito E é essa necessidade que pode estar na origem da tendência natural e comum entre povos com diferentes origens, raças e culturas, que acreditam na existência de uma entidade sobrenatural, independente de conceito, religião, ou definição prévia das características dessa entidade. Deus. 5. É notável que a dúvida sobre a existência ou não de Deus permaneça após séculos de reflexão. Existem diversas manifestações externas, como aparições e milagres, mas que se mantêm na fronteira extremamente estreita de não provarem inequivocamente a existência de Deus, apenas reforçarem a convicção dos que acreditam, sem no entanto, forçar quem quer que seja a isso. Também a evolução científica produz sucessivamente novas descobertas que até agora nunca derrubaram definitivamente o lugar da fé. Ainda assim, isso não é uma prova da existência de Deus, mas estes fatos podem constituir um ponto de partida para a reflexão. 6. Surge ainda a grande questão do “porquê” ter Deus criado o Universo, que por sua vez (com ou sem intervenção divina) gerou homens capazes de decidir sobre o Bem e o Mal e auto-conscientes, limitados fisica e mentalmente, e que se questionam sobre a sua existência. Esta questão, por não ter uma resposta óbvia, e no entanto parecer pertinente, afasta algumas pessoas da fé, face à ausência de um sentido e de um fim para a Criação. De um ponto de vista racional, seria certamente mais fácil chegar à ideia de fé, se fosse possível compreender o objetivo da Criação. Mas o conceito humano de uma determinada ação ter um fim, não é, neste caso, aplicável. Um ser todo-poderoso, com a capacidade de criar um Universo, não tem que ter objetivos pois, quaisquer que eles fossem, seriam facilmente atingíveis. O motivo pelo qual Deus criou o Universo constitui uma questão que não precisa de uma resposta e não pode, portanto. constituir um argumento de não-fé.
Sobre a vida, os dias e lições que aprendi. Ou que deveria aprender... Também alguma poesia e coisas do espírito, da alma, e do coração!
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
Deus
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